É evidente a relação entre as falhas na formação do professor
brasileiro e os problemas de aprendizagem dos estudantes. Vejamos o retrato do
PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos): nas provas mais recentes,
o Brasil ficou nos últimos lugares: 59º em Ciências, 58º em Matemática e 55º em
Leitura, num ranking com 65 países.
Agora analisemos o Censo da Educação Básica, recém divulgado:
na rede pública, mais da metade dos professores de Ciências e de Matemática e
42% dos professores de Português não têm formação específica na área em que
lecionam. O caso mais gritante é o de Física: 68,7% dos mestres entram na sala
de aula das escolas públicas sem a preparação necessária.
Para mitigar as lacunas, o MEC lança hoje (5/4) as inscrições
para 105 mil vagas num programa de formação que tem início no segundo semestre
deste ano. Porém, será que o programa terá reflexo efetivo na melhoria da
aprendizagem dos estudantes? Há fatores que podem colocar em risco os
resultados esperados.
Em primeiro lugar, o Ministério vai pulverizar o atendimento
entre universidades e institutos federais, o programa Parfor Presencial – na
modalidade de um “intensivo de férias” - e vagas em cursos de instituições
privadas. Em vez de criar sinergias na formação docente, na linha de um
currículo mais próximo, opta-se pela certificação pura, sem buscar pontos em
comum.
Além disso, muitos dos cursos de formação de professores
estão defasados, precisam atualizar seus currículos e abordagens em vista das
necessidades da aprendizagem do aluno do século XXI, que envolve tecnologias,
interdisciplinaridade, currículo próximo da vida, metodologia ativa,
protagonismo juvenil. No modelo proposto, de simples contratação de vagas, o
MEC pode estar formando professores para a escola de ontem, e não a de amanhã.
Por exemplo, deveria ter sido previsto o modelo de
“residência pedagógica”, já em vigor na formação de docentes da Finlândia e de
Portugal, entre outros países. É algo similar à residência médica: para se
formar, o professor ainda não graduado atua na escola sob supervisão,
estabelecendo um diálogo frutífero entre teoria e prática.
Por fim, outro risco é lançar o programa sem uma estratégia
de motivação e retenção dos professores no magistério. Hoje, há altos índices
de abandono da carreira docente, que se tornou uma profissão “de passagem”,
assumida enquanto não se consegue uma oportunidade melhor. Sem garantir aos
mestres condições dignas de trabalho e remuneração condizente, o MEC corre o
risco de fazer um investimento vultoso, com pouco reflexo concreto na escola.
Por: Andrea Ramal, escritora, autora de "redação
excelente", para ENEM e Vestibulares.
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